Os transtornos alimentares são condições psicológicas complexas que afetam a relação de uma pessoa com a alimentação, o corpo e suas emoções. Na psicanálise, esses transtornos são vistos como expressões de conflitos internos profundos, muitas vezes relacionados a questões inconscientes, que encontram no comportamento alimentar uma forma de manifestação. Os transtornos mais conhecidos incluem a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e o transtorno da compulsão alimentar.
O Desenvolvimento de um Transtorno Alimentar para a Psicanálise
Para Freud, os transtornos alimentares se desenvolvem a partir de uma combinação de fatores emocionais, psicológicos e inconscientes. Embora fatores biológicos e socioculturais também influenciem, o foco da psicanálise está nos processos psíquicos subjacentes. Esses transtornos podem ser entendidos como um meio simbólico de lidar com angústias, desejos reprimidos e conflitos não resolvidos.
Um dos conceitos centrais da psicanálise é o de que nossos comportamentos e escolhas não são inteiramente conscientes. Na medida em que crescemos e nos desenvolvemos, certas experiências, especialmente aquelas ligadas ao afeto, à autoestima e às relações familiares, podem gerar traumas ou conflitos que não conseguimos elaborar. Essas questões reprimidas encontram saídas por meio de sintomas, como os transtornos alimentares.
O Corpo como Expressão do Conflito Psíquico
Na psicanálise, o corpo é o palco no qual muitos conflitos psíquicos se expressam. Em transtornos como a anorexia, o ato de controlar rigorosamente a alimentação pode ser visto como uma tentativa de retomar o controle sobre a vida ou as emoções, especialmente quando a pessoa sente que está à mercê de circunstâncias externas ou internas descontroladas. O corpo, assim, torna-se o objeto de controle e punição, como uma forma de expressar angústias que a pessoa não consegue verbalizar.
Por outro lado, na bulimia e na compulsão alimentar, o comportamento de comer de forma compulsiva, seguido de culpa ou arrependimento, também pode simbolizar uma tentativa de preencher um vazio emocional ou lidar com frustrações profundas. O ciclo de ingestão e eliminação na bulimia, por exemplo, pode ser uma maneira inconsciente de expressar o desejo de ter, mas também de se livrar de algo que é percebido como intolerável — seja afeto, culpa ou até o desejo de independência.
A Origem
A psicanálise também examina a origem dos transtornos alimentares na primeira infância, quando a relação com o corpo e com a comida é construída. A fase oral, descrita por Freud, é crucial para o desenvolvimento da autoimagem e da confiança básica. A maneira como o bebê interage com a figura de cuidado, como se alimenta e como suas necessidades são atendidas, pode impactar a forma como essa pessoa, na vida adulta, lida com suas emoções e com o próprio corpo.
Se, por exemplo, a criança tem uma relação conflituosa com a mãe, ou sente que suas necessidades emocionais não são devidamente reconhecidas ou atendidas, isso pode gerar um vazio afetivo que, mais tarde, pode ser transferido para a relação com a comida. Os transtornos alimentares surgem como uma tentativa inconsciente de resolver ou lidar com esses conflitos primordiais, transformando a alimentação e o corpo em um campo de batalha emocional.
O Papel da Sociedade e a Influência do Corpo Ideal
Para finalizar o capitulo de hoje, não podíamos deixar de reconhercer a influência do contexto social e cultural no desenvolvimento dos transtornos alimentares. Vivemos em uma sociedade que impõe padrões rígidos de beleza e magreza, o que pode intensificar sentimentos de inadequação e baixa autoestima, principalmente em indivíduos já predispostos a conflitos internos.
Entretanto, enquanto a cultura pode ser o gatilho, a psicanálise nos lembra que o foco do tratamento está nas raízes emocionais e inconscientes do problema. O transtorno alimentar é, em última análise, uma expressão simbólica de questões mais profundas sobre identidade, controle e a relação do sujeito consigo mesmo e com o outro.
Ainda estamos apenas no início da discussão sobre esse tema tão importante e, ao mesmo tempo, pouco conhecido. Se você se identificou com alguns dos relatos apresentados aqui, não hesite em buscar ajuda profissional de um psicólogo, nutricionista e psiquiatra.
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Lembre-se: você não está sozinho(a)!