Guerra lá fora, dor aqui dentro: O conflito Israel-Hamas e a Psique humana.

Mesmo a milhares de quilômetros de distância, há algo no conflito entre Israel e Hamas que nos toca de maneira visceral. Imagens de destruição, crianças chorando, pais desesperados, sirenes, bombas — tudo isso atravessa fronteiras e chega até nós, não apenas como informação, mas como afeto. Não é a primeira vez que isso acontece. Guerras estouram com frequência, mas algumas atravessam a gente de um jeito diferente. E fiquei pensando: por que sentimos tanto, mesmo quando não somos diretamente afetados?

Acredito que há algo de profundamente humano nesse processo. Quando vemos imagens de famílias correndo sob bombardeios, de crianças perdidas, de corpos que já não podem mais contar sua história… não conseguimos simplesmente “não sentir”. Tem algo ali que ressoa em nós. Talvez porque, no fundo, sabemos que poderia ser conosco. Ou com alguém que amamos. E isso basta para o sofrimento se instalar.

A guerra tem esse poder de nos expor ao inominável. Ela revela aquilo que muitas vezes tentamos esconder ou controlar dentro de nós: a violência, o medo, a fragilidade. É como se aquilo que vemos do lado de fora nos mostrasse, de forma crua, o que há também do lado de dentro. Somos confrontados com a nossa própria agressividade, com os nossos impulsos destrutivos, com os nossos limites.

E ao mesmo tempo em que isso nos toca, também nos deixa exaustos. É tanta imagem, tanta notícia, tanto horror, que em algum momento começamos a nos proteger. Nos desligamos, mudamos de canal, evitamos o assunto. Usamos a indiferença como forma de defesa para prosseguir diante de tana injustiça e desumanidade. Essa forma de lidar acaba sendo um jeito do nosso psiquismo dizer “não aguento mais sentir isso tudo”.

Mas ainda assim, algo persiste. Uma inquietação. Uma dor que não é exatamente nossa, mas que também não é totalmente do outro. E talvez seja aí que está o ponto: somos afetados porque somos humanos. E porque, mesmo com todas as nossas defesas, ainda somos capazes de nos identificar com a dor alheia.

Talvez não possamos acabar com uma guerra. Mas podemos pensar sobre ela. Falar sobre ela. Não para nos afogar em tristeza, mas para não anestesiarmos totalmente. Para não normalizarmos o inaceitável 🙏🙏🙏