Férias escolares: descanso para as crianças, desafio para os pais?
As férias escolares chegam como um sopro de liberdade para as crianças: sem horários rígidos, sem tarefas escolares, sem aquela correria de todo dia. É um tempo que, do ponto de vista winnicottiano, tem muito valor, já que oferece a chance de brincar livremente, de criar, de se perder no “faz de conta” sem pressa. Winnicott falava muito sobre a importância do brincar como espaço potencial, aquele lugar entre a realidade interna e o mundo externo, onde a criança pode experimentar quem ela é, sem medo de falhar, sem obrigação de corresponder a expectativas (pausa para nostalgia lembrando da infância rs).
Mas, enquanto isso, para muitos pais, as férias são quase o oposto desse descanso: são um convite a lidar com culpa, medo de não estar disponível o bastante, insegurança sobre “entreter” os filhos ou proporcionar atividades “suficientes”. Surge aquela angústia: “Será que estou fazendo o bastante? Será que meu filho vai ficar entediado? E se ele reclamar que está sem nada pra fazer?” É aí que vale a pena lembrar algo que o autor também destacava: o “estar junto” não precisa ser um “fazer o tempo todo”.
Dessa forma, as férias podem ser um convite não só para as crianças descansarem, mas também para os pais olharem para essa relação por um outro ângulo. Não é preciso ser um animador 24hs por dia. Muitas vezes, oferecer um “ambiente suficientemente bom”, que acolha, dê segurança e permita que a criança brinque, invente e até se aborreça, já é mais do que suficiente. Não podemos nos esquecer que é no tédio que nasce a criatividade; é na ausência de agendas prontas que surge a possibilidade de brincar livremente.
Claro que nem sempre é simples. É um desafio encontrar esse equilíbrio entre presença e ausência, entre dar suporte e deixar espaço, até porque para muitos pais as férias são apenas para as crianças e a rotina de trabalho continua, mas talvez possamos fazer com que as férias também possam ser um lembrete de que nossos filhos não precisam de uma programação perfeita, e sim de um ambiente que lhes permita ser quem são. No fim das contas, férias escolares são um tempo em que as crianças não são cobradas de tarefas e rotinas escolares, é sim um descanso para eles e não podemos nos esquecer disso, por isso não precisamos planejá-las com programações diárias. Além disso, se conseguirmos soltar um pouco a ideia de controle e confiar mais no brincar, na espontaneidade e no que emerge desse encontro podemos encontrar um descanso interno em meio a tudo isso.
Boas férias!




