Se sabotar pode ser uma forma de se proteger (mas de quê?)
Você já reparou como, muitas vezes, é na véspera da prova que bate a preguiça, ou no dia da entrevista que surge uma desculpa para não ir? Quantas dietas foram adiadas para a “segunda-feira que vem”? Quantos relacionamentos promissores você deixou escapar por achar que “não era a hora”? A autossabotagem pode parecer um tropeço bobo, mas talvez seja, na verdade, uma forma disfarçada de se proteger. A pergunta é: proteger-se de quê?
O inconsciente age como aquele amigo superprotetor que não deixa você atravessar a rua sozinho. Ao se sabotar, você evita riscos: a vergonha de errar numa apresentação, a dor de não ser correspondido, ou até o incômodo de assumir responsabilidades novas. É como quando alguém tem medo de dirigir: em vez de encarar, a pessoa prefere nunca aprender. Assim, evita o perigo — mas também perde a liberdade. A sabotagem protege, mas aprisiona.
Cada pessoa carrega seus “bichos-papões”. Para uns, é o medo da crítica: aquele congelamento que aparece quando o chefe pede uma ideia nova. Para outros, é o medo do abandono: melhor não se envolver a fundo em um relacionamento do que correr o risco de sofrer de novo. Há ainda quem se proteja do vazio: finalmente conseguir um emprego dos sonhos pode revelar que a felicidade não é instantânea como se imaginava. A autossabotagem, nesses casos, funciona como um escudo invisível.
Quando você esquece um compromisso importante, enrola para entregar um projeto ou larga a academia na primeira semana, não é só “preguiça” — pode ser o seu inconsciente dizendo algo. A sabotagem, nesse sentido, é uma mensagem disfarçada: “aqui existe uma ferida, um medo, uma história não resolvida”. A psicanálise ajuda a traduzir essa mensagem e entender do que você está realmente tentando se proteger.
Imagine alguém que nunca entra na piscina por medo da água fria: essa pessoa também nunca vai sentir o prazer de nadar. Viver se sabotando é um pouco assim. Pode até parecer mais seguro desistir antes de tentar, mas isso também rouba as chances de experimentar conquistas, amores, criações e mudanças reais. A questão não é abolir toda forma de proteção — é aprender a diferenciar quando ela ainda é necessária e quando já virou prisão.
No fundo, se sabotar é uma forma de dizer: “não estou pronto”. Mas talvez seja justamente na travessia do risco que a gente descubra que nunca estará 100% pronto — e que está tudo bem assim.
Quer que eu finalize esse texto com um parágrafo de fecham




