O ritual e o sintoma no TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo

O ritual obsessivo não é apenas uma mania sem sentido, mas uma tentativa desesperada do sujeito de dar ordem a um mundo interno tomado pela angústia. A cena é comum: lavar as mãos dezenas de vezes, conferir se a porta está trancada, alinhar objetos até que fiquem “perfeitos”. Para quem olha de fora, parece exagero ou até loucura; para quem sofre, é a única forma encontrada de acalmar um mal-estar que não se deixa nomear.

Na psicanálise, o ritual aparece como sintoma, e sintoma é mensagem. O obsessivo não repete por prazer, mas porque está preso numa engrenagem simbólica: repete para não agir, repete para evitar um encontro com algo insuportável, repete para manter afastado aquilo que insiste em retornar. Freud já mostrava que a neurose obsessiva é atravessada por uma relação intensa com a culpa e com a dívida inconsciente. O ritual funciona como um pagamento simbólico, uma forma de expiação: se eu repito, se eu verifico, se eu limpo, talvez eu evite a catástrofe.

Mas é justamente nesse excesso de controle que o sujeito perde a liberdade. O ritual, que deveria proteger, acaba se tornando prisão. Lacan lembrava que o sintoma tem sempre uma função de gozo: há um sofrimento no ritual, mas também um prazer escondido em sustentar a repetição, porque nela o sujeito se reconhece. É um jeito torto de existir.

É importante notar que o ritual obsessivo não é o mesmo que o ritual social ou religioso. Participar de um ritual religioso, por exemplo, pode oferecer pertencimento, sentido, simbolização. O ritual obsessivo, ao contrário, isola o sujeito e o desconecta do laço social, porque sua função não é compartilhar, mas fechar-se em um circuito privado, onde só ele entende as regras.

O trabalho analítico, então, não é simplesmente eliminar o ritual, mas escutar o que ele diz. Qual angústia está sendo velada? Que desejo está sendo contido? Ao invés de arrancar o sintoma, a psicanálise aposta em deslocar seu lugar, fazer o sujeito encontrar novas saídas, novos modos de lidar com aquilo que o atormenta. O ritual pode aprisionar, mas também revela a via de acesso ao inconsciente.