Medos e fobias na vida adulta: o que a psicanálise ensina sobre sua origem
Às vezes, escuto no consultório: “Eu sei que não faz sentido, mas eu simplesmente não consigo controlar esse medo”. Medos e fobias não são exclusividade da infância — na vida adulta, eles continuam nos atravessando, muitas vezes de maneira silenciosa, disfarçada, e até mesmo racionalizada. Mas por trás desses temores aparentemente irracionais, a psicanálise nos convida a escutar algo mais profundo.
Quando falamos em fobias, não estamos apenas diante de um medo exagerado. Estamos falando de algo que carrega um sentido inconsciente, uma história que não foi bem digerida, experiências que não puderam ser simbolizadas no momento em que aconteceram. Na psicanálise, entendemos que o psiquismo encontra formas de lidar com aquilo que é difícil de nomear — e, muitas vezes, uma dessas formas é o deslocamento do medo para um objeto específico, como altura, multidões, aviões, animais ou até situações do cotidiano.
O medo de falar em público, por exemplo, pode estar ligado a muito mais do que um simples “medo de errar”. Pode trazer à tona fantasmas antigos: o receio de ser julgado, o desejo de ser aceito, ou até experiências precoces de vergonha que ficaram marcadas. O objeto do medo, na maioria das vezes, é apenas a ponta do iceberg.
A escuta analítica nos permite ir além da superfície. Ao falar, vamos descobrindo conexões, sentidos escondidos, pedaços da nossa história que estavam abafados. E é nesse processo que, aos poucos, o medo pode deixar de ser algo paralisante para se tornar um caminho de elaboração.
A psicanálise não promete acabar com o medo — e nem deveria. Mas ela nos oferece a possibilidade de compreender de onde ele vem, o que ele quer nos dizer, e como podemos viver com ele de um jeito mais livre e menos sufocante. Porque, no fundo, o medo também fala sobre o desejo, sobre limites, sobre a vida. E quando escutamos isso com cuidado, o que antes parecia um sintoma sem sentido pode se transformar numa chave para acessar partes importantes de nós mesmos.
Se tem algo que aprendi ao longo do meu trabalho clínico e do meu próprio percurso, é que nossos medos têm muito a dizer. E escutá-los com seriedade pode ser o começo de uma grande travessia.




