A solidão do mês de dezembro: quando o silêncio é mais presente que as festas

O mês de dezembro carrega consigo um imaginário coletivo de alegria, encontros e celebrações. As luzes cintilantes, as músicas natalinas e os abraços calorosos parecem envolver o mundo em uma atmosfera de magia. Contudo, para muitas pessoas, dezembro também é um período de silêncio e solidão, em que as ausências e as angústias se tornam mais palpáveis do que qualquer espécie de festividade.

Sob o olhar psicanalítico, esse mês pode intensificar o confronto com a própria subjetividade, evidenciando o vazio que, em outras épocas do ano, permanece encoberto pelas demandas do cotidiano. Em dezembro, quando o mundo exterior grita alegria, o silêncio interior pode se tornar ensurdecedor.

A solidão é um tema recorrente na psicanálise, frequentemente associada ao modo como nos relacionamos com o outro e, sobretudo, com nós mesmos. No mês de dezembro, quando o apelo à convivência e ao pertencimento é exacerbado, aqueles que se sentem desconectados de tais laços sociais podem vivenciar uma intensificação de sentimentos de alienação e exclusão. Esse desconforto é, muitas vezes, menos sobre estar sozinho e mais sobre a impossibilidade de preencher o vazio que a falta do outro simboliza.

Segundo Freud, a relação do sujeito com o outro é mediada pelo desejo, que é, em si, uma busca por algo que sempre falta. Lacan amplia essa ideia ao postular que “a falta” é constitutiva do ser humano, uma vez que nosso desejo é estruturado pela busca incessante de algo que nunca será completamente satisfeito. Em dezembro, o imaginário das festas e da união pode acentuar a percepção de que algo essencial está ausente.

No contexto psicanalítico, o silêncio não é apenas vazio; ele é também um espaço de potência. Enquanto as celebrações de dezembro convidam ao barulho, à agitação e à exteriorização, o silêncio pode oferecer uma oportunidade única de escuta interna. O silêncio, nesse caso, não é uma condenação, mas um convite para se confrontar com aquilo que é mais essencial: o próprio desejo, os próprios medos e a própria verdade.

A psicanálise nos ensina que o desconforto que emerge no silêncio é, muitas vezes, o prenúncio de algo novo. Ele abre espaço para que possamos revisitar nossa história, ressignificar nossas experiências e, talvez, nos reconciliar com as faltas que nos constituem.
Por fim, é importante reconhecer que a solidão de dezembro não precisa ser uma experiência de alienação absoluta. Ela também pode ser um momento de reflexão e reconstrução. Em vez de negar ou fugir do vazio, talvez possamos aprender a habitá-lo, compreendendo que ele é parte essencial do que significa ser humano.

O desejo de pertencer é natural, mas é importante lembrar que esse pertencimento não precisa, necessariamente, vir do outro. Ele pode ser encontrado na relação consigo mesmo, na capacidade de aceitar a própria incompletude e de se abrir para novas possibilidades de conexão, tanto internas quanto externas.

Quando o silêncio se torna mais presente que as festas, talvez possamos enxergar nele não apenas uma ausência de som, mas uma presença: a do nosso próprio ser, em sua complexidade e beleza singular.