Outubro Rosa e a Psicanálise: o corpo feminino e suas marcas

Outubro é marcado pela campanha Outubro Rosa, voltada à prevenção e ao cuidado com o câncer de mama. A proposta é clara: olhar para o corpo, cuidar dele, reconhecer sinais e buscar ajuda quando necessário. Mas, se pensarmos a partir da psicanálise, o corpo não é apenas biológico — ele é também simbólico, atravessado por histórias, desejos, marcas e feridas que nem sempre aparecem nos exames médicos.

Na clínica, aprendemos que o corpo fala. E fala de muitas formas: nos sintomas físicos, nas dores que não encontram explicação médica, nas mudanças de humor que acompanham transformações corporais, na relação que cada mulher estabelece com sua própria imagem. O corpo feminino, em especial, carrega múltiplas camadas de sentidos — é lugar de prazer, mas também de cobrança social, de repressão e, muitas vezes, de silenciamento.

O câncer de mama, quando irrompe, não atinge apenas o tecido biológico. Ele atravessa a feminilidade, a autoestima, a sexualidade e a identidade. A mama, símbolo de nutrição e de erotismo, quando marcada pela doença ou pela cirurgia, convoca a mulher a ressignificar sua relação consigo mesma e com o olhar do outro. É um processo que vai além da medicina: é psíquico, é subjetivo.

Nesse sentido, a psicanálise pode contribuir oferecendo um espaço de escuta para que cada mulher possa falar sobre essas marcas. Não se trata apenas de “sobreviver”, mas de elaborar o que a doença provoca no corpo e na alma. Muitas vezes, a luta não é só contra o tumor, mas contra a culpa, contra o medo, contra as exigências de “ser forte o tempo todo”.

O Outubro Rosa nos lembra que o cuidado precisa ser integral: sim, fazer os exames, sim, buscar a medicina preventiva, mas também abrir espaço para olhar para dentro. O corpo feminino merece ser cuidado em todas as suas dimensões — física, psíquica e simbólica.

Afinal, como nos ensina a psicanálise, nenhum corpo existe sem história. E cuidar da saúde também é poder contar e ressignificar essa história.