Somatização: quando o corpo fala o que a mente cala

Quantas vezes você já sentiu um aperto no peito, uma dor no estômago ou uma tensão muscular sem causa aparente? Em muitos casos, exames médicos não apontam nenhuma alteração física, mas o desconforto persiste. É como se o corpo estivesse tentando dizer algo que a mente não consegue expressar. Esse fenômeno é conhecido como somatização — quando emoções reprimidas encontram uma forma de se manifestar através do corpo.

Na correria do dia a dia, somos ensinados a engolir o choro, a disfarçar a tristeza e a seguir em frente como se tudo estivesse bem. Não há tempo, nem espaço, para parar e sentir. Só que aquilo que não é vivido ou nomeado emocionalmente não desaparece. Ao contrário, se acumula. E muitas vezes, quando não encontra saída pela palavra, escapa pelo corpo.

Dores de cabeça recorrentes, crises de ansiedade, insônia, gastrites e outros sintomas físicos sem uma explicação médica concreta podem ser a expressão de conflitos psíquicos não elaborados. O corpo, nesse sentido, não está “doente” no sentido tradicional, mas está sinalizando que algo dentro de nós precisa ser olhado com mais cuidado.

A psicanálise entende o sintoma como uma tentativa de comunicação. Ele não está ali por acaso, nem é apenas um incômodo a ser eliminado. É um sinal, um pedido de escuta. Quando o sujeito começa a falar sobre o que sente, mesmo que no início não saiba exatamente o que é, abre-se um caminho para que esses sintomas comecem a perder força. Ao nomear o que dói, cria-se espaço para a elaboração psíquica daquilo que antes estava sufocado.

Não se trata de dizer que toda dor física tem origem emocional. Mas é importante reconhecer que, muitas vezes, o corpo entra em cena porque a mente está sobrecarregada. Quando isso acontece, buscar ajuda profissional, como o acompanhamento psicanalítico, pode ser fundamental. A escuta clínica não cura com receitas prontas, mas permite que o sujeito encontre suas próprias palavras, ressignifique suas dores e compreenda melhor o que se passa dentro de si.

Escutar o corpo é, no fundo, escutar a si mesmo. É reconhecer que nossos sintomas falam, e que silenciar sentimentos não nos protege — apenas desloca a dor de um lugar para outro. Quando damos voz ao que está guardado, abrimos a possibilidade de viver de forma mais inteira, mais leve e mais verdadeira.