“A liberdade é muito menos romântica do que imaginamos…”
Foi assim que Paolla Oliveira iniciou uma de suas entrevistas à #revistatpm, refletindo sobre a falsa ideia de liberdade que temos sobre nossos próprios corpos. Uma das musas do Carnaval de 2025, Paolla tem sido alvo de críticas por seu corpo supostamente não estar “de acordo” com as expectativas do público. No entanto, o que realmente vemos nos ensaios é uma mulher deslumbrante, sambando com seu corpo real e belo. Mas será que estamos, de fato, enxergando isso?
Em uma de suas falas, a atriz trouxe uma reflexão potente sobre o conceito de liberdade: “Percebi que não sou livre. Liberdade não é só sobre usar a roupa que a gente quer e poder falar o que pensa nas redes sociais. Que liberdade é essa que eu não posso envelhecer? Que eu uso a roupa que quiser, mas sou julgada e posso ser agredida ou estuprada? Que me condenam quando falo que não quero ser mãe?” Essa frase ressoa profundamente quando pensamos no espaço das redes sociais, onde, paradoxalmente, buscamos expressão livre, mas frequentemente nos vemos prisioneiros do julgamento alheio.
A liberdade, idealizada como um estado pleno de autonomia e autenticidade, muitas vezes se choca com as exigências externas, principalmente em um ambiente tão exposto e opinativo quanto as redes sociais. Ali, o “olhar do outro” — conceito amplamente discutido na psicanálise — se intensifica. É esse olhar que alimenta o Superego, a instância psíquica que representa as normas, valores e exigências sociais internalizadas.
O Superego atua como um juiz interno, regulando nossos desejos e comportamentos, muitas vezes impondo culpa ou vergonha quando nos afastamos do que é socialmente aceito. No ambiente virtual, esse julgamento se amplifica: curtidas, comentários e compartilhamentos se tornam termômetros de aceitação ou rejeição. Assim, mesmo em busca de liberdade, nos vemos frequentemente condicionados a moldar nossas postagens, opiniões e até mesmo imagens corporais para atender a um padrão invisível, mas implacável.
A fala de Paolla escancara as contradições dessa liberdade aparente. Envelhecer, escolher não ser mãe ou simplesmente se vestir como quiser tornam-se atos políticos em uma sociedade que insiste em controlar corpos femininos. O medo do julgamento e da violência limita a liberdade de escolha, criando uma prisão invisível, mas opressiva.
Do ponto de vista psicanalítico, essa constante vigilância externa, quando internalizada de forma rígida, pode levar a um desequilíbrio psíquico. O Ego, que busca mediar os impulsos do Id (nossos desejos mais primitivos) e as exigências do Superego, se vê sobrecarregado, resultando em angústia, ansiedade e, em casos extremos, sintomas psicossomáticos.
O desafio, então, não é eliminar o olhar do outro — algo praticamente impossível em uma sociedade interconectada —, mas desenvolver uma escuta interna mais compassiva. A psicanálise propõe que, ao reconhecer os mecanismos inconscientes que nos aprisionam, podemos construir caminhos mais autênticos de expressão e, quem sabe, nos aproximar de uma liberdade menos idealizada, mas mais real.
Em tempos de redes sociais, talvez a verdadeira liberdade seja silenciar, ao menos em parte, o olhar crítico que internalizamos e permitir que nossa voz encontre espaço, mesmo que imperfeita, mas genuinamente nossa.




